Jogadores comemoram acesso do Crotone após empate fora de casa com Modena (Foto: Lega B) |
O pequeno Crotone fez história e garantiu matematicamente o acesso inédito à Serie A com quatro rodadas de antecedência, ao empatar por 1 a 1 fora de casa com o Modena, na sexta-feira (29/04). Esse tem sido um roteiro relativamente comum nas últimas temporadas do futebol italiano: uma equipe com pouca expressão consegue se organizar administrativamente, ascende seguidamente das divisões inferiores, monta um bom time e surpreende a todos com um acesso à Serie A. Foi assim também com Sassuolo, Carpi, Frosinone e agora com o Crotone. Alguns críticos acham negativo para o futebol italiano que esses clubes menores "tomem" o lugar de times tradicionais e outros ainda defendem a diminuição do número de participantes da Primeira Divisão de 20 para 18, como uma forma de evitar a queda de qualidade técnica que esses "cometas" levam à elite do futebol do país. Há várias boas discussões nessas questões levantadas nas últimas linhas, mas uma coisa ninguém tem direito em mudar: o sonho de jogar entre os melhores do país.
Se essas equipes menores estão "tomando o lugar" de outras mais tradicionais, não é demérito nenhum delas. Pelo contrário, esses clubes estão mostrando a fórmula para chegar lá: uma boa e consciente administração. Existem diversas esquadras com história na Serie A que continuam batendo cabeça nas divisões menores, como Padova, Siena, Foggia, Lecce, Messina, Catanzaro, Parma e Catania, por exemplo, e que dariam um peso maior à Serie A. No entanto, todos eles se envolveram em péssimas administrações recentes que culminaram com a decretação de falência e o recomeço nas divisões inferiores, com exceção de Lecce e Catania que chegaram ao fundo do poço por envolvimento em escândalos de manipulação de resultados, o que não deixa de ser outro gravíssimo problema de gestão. Então, o problema não está nos times menores que conseguem, por méritos próprios, um lugar ao sol, mas, sim, dos outros que são incompetentes e abriram essa brecha.
Um outro ponto nesta questão, é o de que esses clubes podem ter menos expressão, mas não são sem história. É verdade que uma história menos rica, mas têm história. Não são invenções de empresários ou de prefeituras, como ocorre com frequência no Brasil, tendo como alguns exemplos o Grêmio Barueri, Boa Esporte (ex-Ipatinga) e Macaé. O Crotone foi fundado em 1910; o Carpi em 1909; o Frosinone em 1912; e o Sassuolo em 1920. Com a exceção dos neroverdi, são todos centenários. Seja na Serie A ou no futebol amador, essas equipes sempre representaram suas cidades e possuem identificação com os moradores. Sempre tiveram. Essa é grande diferença: não são artificiais, são de verdade.
Assim como mostrou o Quattrotratti aqui, a cidade de Crotone fica no extremo sul da Itália, na região da Calabria, um dos lugares mais bonitos da "bota", mas que sofre com um altíssima taxa de desemprego de 31% e um dos menores índices de desenvolvimento humano do país. Um cenário que se agravou ainda mais pela forte crise financeira que freou a industrialização da região. Apesar de todos os problemas, os cerca de 64 mil habitantes da cidade têm no futebol uma das maiores alegrias recentes. A terra que abrigou o matemático Pitágoras na antiguidade agora tem orgulho pintado nas cores azul e vermelho. Milhares de crociati saíram de suas casas vestidos com essas mesmas cores e tomaram as ruas e praças da cidade para celebrar a vitória do futebol. Os torcedores lotaram a praça principal para acompanhar o jogo contra o Modena e foram receber os jogadores como verdadeiros heróis. Uma linda festa para quem compareceu em bom número no Estádio Ezio Scida durante toda a temporada e que espera ver os melhores do país pisarem no "caldeirão dos tubarões".
A TEMPORADA
Depois de quatro temporadas sob comando do promissor técnico Massimo Drago, formado como jogador e treinador no próprio clube e hoje no Cesena, a direção do Crotone resolveu apostar em outra prata da casa. O croata Ivan Juric está entre os dez jogadores que mais vestiram a camisa rossoblu na história (152 partidas, entre 2001 e 2006). Com uma proposta de jogo ofensiva, Juric levou uma equipe considerada mediana a fazer uma campanha muito além das expectativas. Em 39 rodadas até agora, foram 22 vitórias, 12 empates e apenas cinco derrotas. Ao todo, foram 59 gols marcados e somente 32 sofridos, a melhor defesa da Serie B. Números ainda mais impressionantes jogando em casa, onde tem incríveis 80,7% de aproveitamento (14 vitórias, quatro empates, uma derrota e apenas dez gols sofridos em 19 jogos). Destaques para o goleiro Alex Cordaz, o meia Bruno Martella, maior "garçom" da equipe com oito assistências, e o atacante croata Ante Budimir, emprestado pelo St. Paulli, da Alemanha, e autor de 16 gols.
Confira abaixo os vídeos da comemoração dos jogadores após a partida contra o Modena e da festa na cidade de Crotone no dia seguinte:
Foto 1: Lega B
Foto 2: Lega B
Foto 3: Divulgação
Foto 4: Lega B
Foto 5: Giacinto Carvelli e Agostino D'Urso/Ilquotidianoweb.it