quarta-feira, 26 de abril de 2017

DO INFERNO AO CÉU: OS DIABOS ESTÃO NA SÉRIE B DEPOIS DE 19 ANOS

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Quem acompanha o futebol italiano certamente já ouviu falar do Foggia. O time da região da Puglia entrou para a história como uma das equipes mais revolucionárias entre o final dos anos 1980 e início da década de 1990. Sob o comando de Zdnek Zeman, o estilo ultraofensivo que levou os satanelli da Serie C1 à nona colocação da Serie A (duas vezes) em quatro anos ficou conhecido como Zemanlandia e deu grande visibilidade a jogadores como os que formavam o "tridente maravilha",  Roberto Rambaudi, Francesco Baiano e Giuseppe Signori. Além dos atacantes, o meia Giovanni Stroppa, campeão europeu com o Milan em 1989, chegou ao sul da Itália na temporada 1993/1994 e foi convocado para a Azzurra quatro vezes antes de retornar a Milão. E quis o destino (e o trabalho) que fosse um dos atletas da época de ouro do Foggia um dos responsáveis pelo ressurgimento do clube. Mesmo com o empate diante do Fondi por 2 a 2, no último domingo (23/04), os diabos garantiram o retorno à Serie B depois de 19 anos com Stroppa de treinador. A festa coloriu o Estádio Pino Zaccheria e as ruas da cidade de Foggia com os tradicionais vermelho e preto. Mais do que o acesso histórico, a conquista é um marco no ressurgimento de um clube que esteve muito próximo de fechar as portas em 2012.

Apesar de ter herdado um elenco forte, embora seja apenas o quarto mais caro entre todos os times do grupo C da Lega Pro, a tarefa de Stroppa não foi fácil. Os rossoneri vinham de duas temporadas seguidas com o bom trabalho do técnico Roberto De Zerbi. Na temporada 2015/2016, o Foggia bateu na trave do acesso ao perder a final dos playoffs para o Pisa de Gennaro Gattuso. Mesmo com o desempenho positivo, De Zerbi e a diretoria se desentenderam e o treinador foi demitido. Giovanni Stroppa chegou para apagar o incêndio interno e ainda montar o time. E ele fez muito bem. Para se ter uma ideia, o valor do elenco do Foggia é avaliado em € 4,7 milhões, contra € 5,13 milhões do Matera; € 5,20 milhões do Catania; e € 6,03 milhões do Lecce, de acordo com o site Transfermarkt.

Mesmo com a disparidade financeira, os foggiani brigaram de igual para igual com os leccesi desde o início do campeonato. Os comandados de Stroppa largaram com seis vitórias seguidas, mas o grande teste de fogo surgiu cedo, entre outubro e o início de dezembro de 2016. Em 11 partidas neste período, os diabos venceram duas, contra Monopoli e Catanzaro que brigam contra o rebaixamento. No entanto, a incrível reação do clube rossonero começou após a derrota por 3 a 2 para o Fondi no primeiro turno. O mesmo Fondi que foi derrotado neste final de semana na partida que sacramentou o acesso. A partir do dia 6 de dezembro, o Foggia disputou 57 pontos e ganhou 50, um aproveitamento absurdo de 87,7% em 19 rodadas. Foram incríveis 16 vitórias, dois empate e apenas uma derrota neste período. Enquanto isso, o Lecce tropeçou em jogos importantes e ficou para trás. Mais uma vez, os giallorossi terão de disputar os playoffs para tentar voltar à Serie B. Desde que foi rebaixado diretamente da Serie A para a Lega Pro por causa de manipulações de resultados, em 2012, o Lecce ficou apenas no "quase" e perdeu três matas-matas valendo o acesso.

Coincidência ou não, com a bola rolando, Giovanni Stroppa adota o mesmo esquema tático favorito de Zeman, o 4-3-3. O grande destaque da equipe é o experiente atacante Fabio Mazzeo, de 33 anos. O jogador estava sem clube depois de ter sido dispensado pelo Benevento ao final da última temporada, mas encontrou no Foggia o melhor momento da carreira, com 19 gols marcados no campeonato até o momento. Como o esquema de Stroppa permite bastante a mobilidade dos jogadores ofensivos, o próprio Mazzeo tem sete assistências na conta. Apenas o capitão Cristian Agnelli serviu mais aos companheiros, com nove passes para gol. Por falar em bola na rede, o vice-artilheiro da equipe é o ponta direita Vicenzo Sarno, com oito gols, enquanto pela esquerda Matteo Di Piazza tem cinco gols, e Cosimo Chricò, que divide a posição com Sarno, tem três gols e cinco assistências.

ZEMANLANDIA

O Foggia já havia participado da Serie A na década de 1960 e 1970, quando conquistou a nona colocação em 1964/1965. No entanto, foi nos anos 1990 que os pugliesi ficaram marcados na história do futebol italiano. Zdnek Zeman já havia tido uma experiência na equipe rossonera em entre 1986 e 1987, quando o estilo do treinador que comandava o modesto Licata, da quarta divisão, chamou a atenção dos dirigentes do clube, mas os resultados não apareceram. No entanto, quando o Foggia conquistou o acesso à Serie B, em 1989, o então presidente Pasquale Casillo chamou o técnico tcheco novamente. Dessa vez, a mistura deu muito certo. Após a oitava colocação na primeira temporada, os satanelli  foram campeões da segunda divisão em 1991 com a marca de Zeman: troca de passes rápidos, ofensividade e gols, muitos gols. Foram 67 em 38 jogos naquela campanha. Se dentro de campo o técnico caiu nas graças da cidade inteira, os treinamentos curiosos e diferentes promovidos por Zeman chamaram a atenção. Entre as atividades, estava correr na lama, subir correndo as arquibancadas do estádio e pular cancelas, por exemplo, entre outros métodos nadas convencionais para aprimorar a parte física e técnica dos jogadores.

A partir de 1991, Zeman e o Foggia conquistaram a Itália inteira com a Zemanlandia. Com Rambaudi, Baiano e Signori, os diabos tiveram o segundo melhor ataque na Serie A 91/92 com 58 gols marcados e a pior defesa, também com 58 gols sofridos. No entanto, o futebol envolvente do Foggia levou o time à surpreendente nona colocação logo no primeiro campeonato na volta à primeira divisão. O retumbante sucesso continuou por duas temporadas, até Zeman trocar a Puglia pela capital Roma em 1994 depois de conquistar outra nona posição na Serie A de 1993/1994. O destino do técnico tcheco foi a Lazio e depois a Roma.

O FUNDO DO POÇO

Sem o presidente Pasquale Casillo, o técnico Zdnek Zeman e os principais jogadores, o Foggia foi rebaixado na temporada seguinte, em 1994/1995, e disputou a Serie B pela última vez em 1997/1998, quando terminou na 17ª posição e caiu novamente. Também sem dinheiro para se reerguer, os rossoneri chegaram à Serie C2 em apenas dois anos. Desde então, o Foggia ficou orbitando entre a terceira e quarta divisões. O maior suspiro neste período foi em 2007, quando os diabos terminaram na quarta colocação do grupo B da Lega Pro e perderam a vaga na Serie B nos playoffs.

Pasquale Casillo e Zdnek Zeman tentaram reerguer o Foggia antes da falência (Foto: Divulgação)
Em 2010, Casillo comprou novamente o Foggia e levou com ele todos os diretores do clube na época de ouro, inclusive Zeman. No entanto, a tentativa de um retorno às glorias do passado terminou na pior tragédia da história do clube. Em 2012, Pasquale Casillo entregou as contas ao prefeito de Foggia. Sem ter como pagar a inscrição na Lega Pro, o time foi inscrito nas divisões amadoras do futebol italiano e decretou falência.

O RECOMEÇO

Mesmo com tanta história, o clube corria o risco de ficar fadado a disputar apenas as divisões regionais amadoras. No entanto, um grupo de empresários do ramo da energia elétrica, formado por Franco Sannella, Fedele Sannella e Massimo Curci, adquiriram as ações do Foggia em 2012. A nova gestão começou um processo de profissionalização e empreendedorismo para recuperar o clube. O antigo e tradicional escudo com o símbolo dos diabos foi recuperado e o trabalho, segundo os proprietários, tem como objetivo tornar o o Foggia rentável em conjunto com ações com os torcedores. O primeiro resultado dentro de campo apareceu com o retorno à Serie B depois de 19 anos. Se o projeto vai continuar dando certo, apenas o tempo dirá. No entanto,a festa nas ruas da cidade após a conquista mostra o quanto a torcida estava com saudade de comemorar.
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quarta-feira, 19 de abril de 2017

ESCUDOS: ATALANTA



Duas coisas incomuns chamam a atenção no escudo da Atalanta: o desenho de uma figura feminina e o nome, um dos poucos que não possui uma referência direta a uma cidade, bairro, região ou ponto geográfico, ao lado de Juventus, Internazionale, Sampdoria e Spal, nas series A e B. As duas coisas possuem origem na mitologia grega. No entanto, apesar do apelido do clube ser Dea (Deusa, em português), Atalanta era uma heroína humana, segundo a lenda. O preto e o azul predominantes são comumente confundidos com as cores da Inter. A Atalanta foi fundada um ano antes do que a rival, em 1907, mas o neroazzurro só apareceu pela primeira vez na camisa atalantina 13 anos mais tarde e não teve nada a ver com cópia ou inspiração no time de Milão.

A LENDA

A figura feminina do símbolo da equipe de Bérgamo é uma referência à Atalanta, uma heroína que, segundo a mitologia grega, foi abandona pelo pai no monte Partênio logo após o nascimento, pois ele esperava um menino. Ela foi alimentada por uma ursa até ser encontrada e criada por caçadores. A lenda conta, ainda, que Atalanta cresceu, também se tornou uma caçadora e desenvolveu a habilidade de correr. Ela teria ficado tão rápida e ágil que poderia desafiar até mesmo os deuses mais velozes. Atalanta ganhou fama por participar da caçada ao temido javali de Calidônia. Ela foi a responsável por atingir o animal primeiro com uma flecha nas costas, enquanto Anfiarau acertou uma lança no olho e Meleagro o matou.

O pai de Atalanta, enfim, reconheceu a filha, mas uma profecia de um oráculo dizia que ela perderia suas habilidades assim que se casasse. Para agradar ao pai, ela prometeu que iria se casar apenas com aquele que a vencesse em uma corrida, o que nunca tinha ocorrido. E o preço para quem perdessem seria a morte. Foi então que apareceu Hipomene. Perdidamente apaixonado pela moça, ele pediu a ajuda de Afrodite, que lhe deu três maças douradas. Seguindo o conselho da deusa do amor, o pretendente desafiou Atalanta e deixou as frutas pelo caminho. Encantada, a moça parou para pegar as maças e Hipomene venceu a corrida.

Pintura de Atalanta e Hipomene feita por Guido Reni entre os anos de 1620 e 1629 (Foto: Reprodução)
Os dois se casaram e, diz a lenda, não agradeceram à Afrodite. Enfurecida pela ingratidão, a deusa do amor levou o casal até o templo de Cibele, considerada a mãe de todos os deuses. Atalanta e Hipomene se amaram no local, o que provocou a ira de Cibele. Como forma de punição, os dois foram transformados em leões.

CORES

A Società Bergamasca di Ginnastica e Sports Atletici Atalanta foi fundada no dia 13 de outubro de 1907 e utilizava o uniforme com a camisa listrada verticalmente em preto e branco, além dos calções e meias negras. No entanto, em 1920, houve a fusão com a Società Bergamasca di Ginnastica e Scherma, que também tinha a camisa listrada na vertical, mas com as cores azul e branca. Foi a partir da mescla das duas equipes que surgiu o tradicional neroazzurro da Atalanta, sem qualquer relação com a Inter, que já nasceu com as mesmas cores em 1908.

ESCUDOS ANTIGOS


   
   
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segunda-feira, 17 de abril de 2017

VENEZIA RETORNA À SERIE B COM PIPPO INZAGHI E DINHEIRO AMERICANO

Jogadores comemoram jogando o treinador Filippo Inzaghi para o alto (Fotos: Fotos: Marco Sabadin/Vision)
Quando se fala em Veneza, logo vem à mente os românticos canais que atravessam a pantanosa cidade do nordeste da Itália onde é possível passear em gôndolas, passando sob as charmosas pontes que compõe um dos mais lindos cenários do mundo. No entanto, neste final de semana, Veneza foi a terra do futebol. O tradicional Venezia ficou apenas no empate por 1 a 1 com o vice-lanterna Fano, em casa, mas o resultado, combinado com a derrota do segundo colocado Parma, foi suficiente para os lagunari abrirem 12 pontos de vantagem na ponta da tabela com mais três rodadas pela frente. Com isso, a equipe treinada por Pippo Inzaghi (ele mesmo) garantiu o acesso direto à Serie B depois de 12 anos. 


Neste período, os leoni alati passaram alguns dos piores momentos de sua história. Com 23 participações na Serie A, o clube do Vêneto chegou ao fundo do poço duas vezes. A primeira, em 2005, após a administração de Maurizio Zamparini, que levou a equipe à Serie A, mas abandonou o time ao vislumbrar no Palermo uma oportunidade melhor de investimento. Sem dinheiro, a equipe entrou em crise e decretou falência pela primeira vez. Nos anos seguintes, o Venezia figurou na terceira divisão, até ser excluído do campeonato por graves problemas financeiros na temporada 2008/2009. Um grupo de torcedores até chegou a fundar um novo clube, o VeneziaUnited, com medo de que o clube fosse acabar. Porém, o recomeço aconteceu na Serie D, equivalente à quinta divisão. Depois de quatro anos, os arancioneroverdi retornaram ao futebol profissional em 2012, já sob o comando do empresário russo Jurij Korablin, ex-sargento do exército soviético e ex-prefeito da cidade de Khimki, onde montou uma equipe de futebol e basquete.

Com o investidor estrangeiro, a expectativa era de que o Venezia fosse crescer e voltar às primeiras divisões do futebol italiano. No entanto, o que aconteceu foi exatamente o contrário. Em 2014/2015, Korablin diminuiu drasticamente o investimento no Venezia por causa da crise econômica que culminou com a desvalorização da moeda russa e as sanções financeiras impostas por Estados Unidos e outros países. Sem dinheiro, em 2015 o clube decretou a segunda falência em dez anos. Na temporada seguinte, os veneziani recomeçaram da Serie D, que agora é equivalente à quarta divisão, sob o comando temporário do empresário americano do setor de produtos de limpeza James A. Daniels. No mesmo ano, o cargo de presidência passou para o advogado americano com descendência italiana Joe Tacopina, que passou a ser o dono da maior parte das ações dos leões alados.

Desde que Tacopina assumiu a presidência, o Venezia vem crescendo ano após ano. A equipe conquistou dois acessos seguidos e estará de volta à Serie B em 2017/2018. Aliás, além das participações na primeira divisão, os veneziani são donos de dois títulos da Serie B, em 1961 e 1966, além de uma Coppa Italia, em 1941.

CAMPANHA

Dentro de campo, o Venezia não tem um grande destaque individual, mas o técnico Filippo Inzaghi, uma aposta depois do período ruim à frente do Milan, conseguiu tirar o melhor de um grupo que mescla juventude e experiência. Apesar da história de sucesso do treinador como atacante, o clube não tem o ataque mais positivo do grupo B da Lega Pro, mas possui, de longe, a melhor defesa, com apenas 26 gols sofridos em 35 jogos. Neste sistema defensivo, o goleiro Davide Facchin, de 29 anos, tem sido bastante seguro. O zagueiro Marco Modolo, de 28 anos, é outra peça fundamental no trio de defensores à frente de Facchin. Modolo vive o melhor momento na carreira, após passagens discretas por Parma e Carpi.

Geijo é um dos artilheiro do Venezia na temporada
Com 10 gols, o experiente atacante Alex Geijo, de 35 anos, é o artilheiro da equipe, ao lado de Stefano Moreo, de apenas 23 anos e 1,91m, que pertence ao Virtus Entella, da Serie B. O tridente ofensivo é completado por Marcello Falzareno. O ponta direita fez apenas um gol na temporada, mas o baixinho de 1,67m tem velocidade para cair pelos lados do campo. Falzareno foi contratado no meio de 2016 após passar um ano no Bassano Virtus, que bateu na trave do acesso na última temporada. Além disso, o lateral esquerdo Agostino Garofalo, ex-Novara, de 32 anos, também é uma arma importante do time de Inzaghi. Garofalo foi responsável por 12 assistências no campeonato.

A consistência do Venezia é impressionante. Os lagunari assumiram a liderança do grupo B em definitivo na 18ª rodada e não largaram mais. São 15 partidas seguidas de invencibilidade, com 12 vitórias e três empates. Os comandados de Pippo Inzaghi não perderam ainda em 2016 e, dentro de casa, no Estádio Pier Luigi Penzo, somente uma derrota, para o Padova, em 28 de novembro de 2015. Uma campanha incontestável de um time que deu mais um passo no sonho de voltar a estar entre os grandes.

PLAYOFFS

Com outras equipes fortes, como Padova, Reggiana e Pordenone, que esteve muito próximo do acesso na temporada passada, o grupo B talvez pode ser considerado o mais forte da Lega Pro. No entanto, existia a expectativa de que o Parma pudesse fazer uma campanha melhor. Os crociati começaram o campeonato com o elenco mais caro do grupo e como principais favoritos ao acesso. Porém, os emiliani não mostraram dentro de campo a mesma superioridade dos números. Fora três vitórias, três empates e duas derrotas nas nove primeiras rodadas, um retrato da irregularidade que acompanhou o time durante a temporada. O desempenho não foi suficiente para brigar pelo acesso direto, mas o Parma garantiu com antecedência uma vaga nos playoffs, assim como Pordenone, Padova e Reggiana, graças às derrotas de Santarcangelo e Maceratese na 35ª rodada.

Venezia na Serie B!
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