Jogadores comemoram acesso à Serie B da Cremonese (Fotos: LaPresse, Ib Frame e Studio B12) |
Cremonese e Alessandria, impressionantemente, terminaram o grupo A da Lega Pro empatados com 78 pontos. Porém, como a Cremo venceu o confronto direto por 1 a 0 em casa e empatou em 1 a 1 no Piemonte, ficou com a vaga direta na Serie B. Se você já achou dramática a história do último jogo da Cremonese, saiba que esse foi apenas um capítulo, o encerramento triunfal de um longa-metragem repleto de drama e surpresas.
CRISE
Ao contrário de Venezia e Foggia que chegaram a decretar falência nos últimos anos antes de conquistarem o acesso à segundona nesta temporada, a Cremonese não alcançou o fundo do poço desta forma, mas chegou perto. Em 114 anos de história, o tradicional time da cidade de Cremona, na Lombardia, já disputou a primeira divisão 14 vezes. O último e, talvez o melhor momento do clube foi entre 1989 e 1996, quando esteve na Serie A em cinco temporadas, sendo três consecutivas, entre 1993 e 1996, algo inédito, quando chegaram à 10ª colocação em 1994.
No entanto, os tigres entraram em queda livre nos anos seguintes. Após o rebaixamento à Serie B em 1995/1996, a Cremo segurou a lanterna na segunda divisão e chegou à Serie C1 em 1997/1998. Os lombardos retornaram à Serie B imediatamente, mas voltaram a cair nos campeonatos seguintes e foram parar na Serie C2 no início do século XXI. Foi quando o histórico presidente Domenico Luzarra, que ocupava o cargo desde 1973, abandonou a equipe. Desde então, os violini até tiveram uma passagem relâmpago pela segunda divisão em 2005/2006, mas se tornaram mesmo figurinhas carimbadas das terceira e quarta divisões do futebol italiano.
Após a saída de Luzarra, o ex-jogador do clube na época de ouro Luigi Gualco assumiu a administração da squadra. No entanto, Gualco fracassou e deixou a Cremonese com sérios problemas financeiros em 2007, após a aventura desastrosa na Serie B. Foi quando o empresário do ramo siderúrgico Giovanni Averdi, natural da cidade de Cremona, adquiriu a maioria das ações e salvou o clube da falência. Desde então, os grigiorossi vêm montando times competitivos e brigavam pelo acesso, mas sempre esbarraram na falta de sorte. Os cremonesi chegaram aos playoffs em 2008, 2010, 2012 e 2014, mas acabaram eliminados e bateram na trave.
REVIRAVOLTA
Para a atual temporada, o presidente Averdi apostou no técnico Attilio Tesser, com passagens recentes por Ternana e Avellino na Serie B, e um elenco bastante experiente. Para se ter uma ideia, apenas três jogadores com menos de 27 anos fizeram mais de dez jogos no campeonato, enquanto nove atletas com mais de 30 anos entraram em campo em mais de dez partidas. Com uma média de 28,3 anos, o elenco da Cremonese é o mais "idoso" entre todos os 60 participantes da Lega Pro. Os "vovôs" assimilaram muito bem o simples 4-3-1-2 de Tesser. O atacante e capitão Andrea Brighenti, de 29 anos, marcou 16 gols e foi o artilheiro da equipe, sendo seguido pelo companheiro de área, Stefano Scappini, também de 29 anos, com 12 bolas nas redes. No meio campo, o grande destaque é Gianpietro Perrulli, de 31 anos, que faz exatamente o trabalho de ligação com o ataque. Mesmo saindo do banco em alguns jogos, Perrulli foi responsável por 12 assistências.
No entanto, nem tudo foram flores para a Cremonese durante a temporada. A concorrência com a Alessandria foi dura. Aliás, a rival tinha o elenco mais caro do grupo e era a principal favorita ao acesso direto. Os alessandrini surpreenderam na temporada passada ao chegarem às semifinais da Coppa Italia, quando foram eliminados pelo Milan. O clube do Piemonte também fez um bom papel na Lega Pro, mas acabou eliminado nas semifinais dos playoffs de acesso. O técnico Angelo Gregucci deixou o clube para ser assistente técnico de Roberto Mancini na Inter. O presidente Luca di Masi manteve a base, reforçou ainda mais o elenco e contratou o experiente treinador Piero Braglia. O objetivo seria apenas um: o acesso.
Com a bola rolando, a Alessandria mostrou a superioridade e favoritismo dentro do campo. Os grigi mantiveram uma invencibilidade incrível nas 20 primeiras rodadas, chegando a abrir oito pontos para a própria Cremonese em dezembro do ano passado. Foram 15 vitórias e apenas cinco empates neste período. Parecia que seria o grupo mais chato da Lega Pro, ainda mais quando a própria Cremonese passou por um período de instabilidade entre novembro e dezembro, com uma vitória três derrotas e dois empates, e outro em janeiro, com quatro rodadas seguidas sem ganhar.
No entanto, a Alessandria entrou em parafuso pouco antes da virada de ano. Desde 30 de dezembro, foram oito vitórias, quatro empates e seis derrotas. Um aproveitamento muito diferente do primeiro turno. O calcanhar de aquiles dos ursos cinzas foi, principalmente, o desempenho como visitante. Desde o dia 8 de dezembro, os piemontesi arrancaram três pontos fora de casa apenas contra a Carrararese, que brigava para não cair, e perderam justamente o confronto direto para a Cremonese. Enquanto isso, mesmo com o período ruim em janeiro, a Cremo cresceu de desempenho, perdeu poucos pontos bobos e conseguiu tirar a enorme vantagem do adversário no topo da tabela. Para se ter uma ideia, a Alessandria liderou o grupo da 3ª à 35ª rodada, mas não conseguiu segurar as pontas na reta final, mesmo com o desempenho ofensivo extraordinário de Riccardo Bocalon e Pablo Gonzalez, que marcaram 20 gols cada um. Para completar, Piero Braglia não resistiu ao péssimo desempenho no segundo turno e foi substituído por Giuseppe Pillon para as três últimas rodadas, mas não conseguiu evitar o milagre da Cremonese e terá de se contentar em disputar mais um playoff para tentar salvar a temporada.